O que a Avaliação Neuropsicológica pode ajudar?

A Avaliação Neuropsicológica é o estudo detalhado das funções cognitivas, emocionais e comportamentais, sendo considerada uma avaliação funcional do cérebro. Permite realizar diagnósticos precoces e diferenciais, proporcionando intervenções terapêuticas que contribuem e reestabelecem as funções cognitivas com funcionamento inadequado, visto que o cérebro da criança se encontra em desenvolvimento e é plenamente favorecido pela Neuroplasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso de mudar e se adaptar funcionalmente e estruturalmente.

Esta avaliação além de fornecer importantes informações diagnósticas sobre a criança, apresenta um papel fundamental do ponto de vista preventivo, sendo a identificação precoce dos transtornos do desenvolvimento um fator fundamental para estabelecer e estruturar rotinas de tratamentos e orientações com foco na prevenção de dificuldades ou transtornos mais sérios em outras etapas da vida.

Além das indicações relacionadas à dificuldade de aprendizagem, desatenção e hiperatividade, indica-se a avaliação neuropsicológica para autismo, síndromes genéticas, doenças neurológicas, transtornos invasivos do desenvolvimento entre outros.

Porque realizar uma avaliação neuropsicológica em idade pré-escolar?

Para identificar crianças que possam apresentar fatores de risco para o desenvolvimento, por exemplo: prematuridade.

Diagnosticar a presença ou a extensão de um problema no desenvolvimento através de atividades padronizadas.

Associar os resultados da avaliação com variáveis ambientais ou com características maternas, como por exemplo: ansiedade.

Quanto mais precoce o diagnóstico mais rapidamente pode ser iniciada a reabilitação cognitiva, aumentando assim as chances de recuperação funcional e promover a plasticidade neuronal significativa.

E a partir do exame neuropsicológico é possível promover orientações para os profissionais de educação sobre estratégias de ensino que podem favorecer este início de fase da aprendizagem.

MEU FILHO NÃO CONSEGUE LER

A dificuldade da aquisição da leitura e escrita é muito comum. A criança deve ser avaliada para excluir causas orgânicas, psíquicas e  escolares  que levem a tanto. Existe uma condição, a dislexia que não é tão frequente, e deve ser investigada.

Quem não lê é deficiente?

A incapacidade de adquirir a leitura e escrita não é necessariamente uma deficiência, pode estar relacionada a outras patologias e pode ser uma condição isolada na qual a criança não consegue identificar as letras e atribuir um significado às palavras. Tem vários graus de manifestação merecendo adequada investigação e tratamento.

Toda criança tem que ler até sete anos?

Cada indivíduo tem uma velocidade de amadurecimento do sistema nervoso que lhe confere a habilidade de adquirir a leitura e escrita. Na média as crianças estão “prontas” para ler e escrever entre cinco e sete anos, mas não significa que se isto não ocorre até então a criança tenha algum problema.

Toda dificuldade de leitura e escrita é problema neurológico?

Nas dificuldades de aprendizado devem ser avaliados vários fatores que levam ao fracasso escolar, tais como doenças orgânicas, distúrbios de sono, problemas pedagógicos, ambiente escolar, distúrbios sensoriais, até mesmo problemas neurológicos como epilepsia, enxaqueca, TDHA.

Distúrbio de aprendizagem só ocorre na leitura?

No distúrbio de aprendizagem encontramos geralmente dificuldades de leitura e escrita, porém existem distúrbios  específicos como na matemática.

 

AUTISMO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se caracteriza por prejuízo da comunicação e interação social.Sua manifestação clínica tem várias gradações de manifestação. Seu tratamento envolve o processo terapêutico, além de medicações específicas.

Os comportamentos autísticos podem estar presentes em outras doenças, fato que merece o diagnóstico diferencial para adequado processo terapêutico.

Todo autista anda na ponta dos pés? 

O autista tem distúrbios na percepção de estímulos. Andar na ponta dos pés pode ser um sintoma decorrente desta percepção alterada, mas não é condição de todos os portadores de autismo.

Girar brinquedo é atitude só de autista?

Toda a criança pode explorar um brinquedo ou objeto girando. No autismo isto é mais frequente, geralmente é visto com maior intensidade e frequência e em situações pouco usuais.

O autista sempre é inteligente?

Algumas  crianças autistas são excepcionalmente inteligentes. Porém no autismo observamos crianças com inteligência normal e até mesmo deficiência mental.

O autista pode trabalhar?

Considerando-se individualmente as capacidades intelectuais e expressão de seus sintomas o autista pode desenvolver habilidades que permitam uma vida social satisfatória, com capacidades laborais. Por isto é importante o diagnóstico e intervenções precoces neste transtorno.

Bebês podem manifestar autismo?

Podemos observar alguns sintomas que sugerem autismo em bebês, como não chorar, ficar quieto no berço sozinho, não gostar de ser amamentado. No entanto é essencial a avaliação médica e de desenvolvimento para constatação de qualquer suspeita.

NEURODESENVOLVIMENTO

O cérebro da criança ao nascer já apresenta a distribuição de suas células (neurônios) definida. Aquelas células responsáveis pelas funções básicas como controle de órgãos vitais, capacidade para alimentar-se, percepção sensorial e sensibilidade, já estão razoavelmente conectadas, só se aprimoram com a idade e estímulos externos.

Com o tempo os neurônios criam ligações e formam sistemas responsáveis pelo controle motor, comunicação, interação com o meio, pensamentos e cognição.

Durante o primeiro ano de vida há um intenso desenvolvimento da comunicação entre estas células e o processo de mielinização. Este consiste em um envoltório dos neurônios interligados que facilita e agiliza comunicação celular.

Este processo leva ao aumento do volume cerebral da criança intenso nos três primeiros anos de vida, e em especial no primeiro. Por isso as crianças são mais “cabeçudas” na primeira infância.

A manifestação desta organização cerebral se faz através das etapas de desenvolvimento, seguindo uma ordem de acordo com a área cerebral mais mielinizada a cada idade.

Assim nos três primeiros meses a criança sustenta a cabeça e depois tem o controle do tronco para depois sentar, engatinhar e andar. Estas etapas sucessivas se estendem por toda a infância em cada área: visão, audição, comunicação, controle motor, atividades de vida diária, controle de esfíncteres, até as habilidades escolares.

Todo esse processo se estende até a idade adulta, variando na habilidade e velocidade de aquisições e sofrendo influência, hormonal e do meio em que a criança vive.

Foram estabelecidos intervalos para cada aquisição, a fim de facilitar a identificação de possíveis distúrbios e intervenções necessárias.

O pediatra e o neuropediatra sabem identificar o que é adequado para cada idade e o que é atraso.

Se uma criança apresenta um atraso em uma etapa do neurodesenvolvimento deve ser avaliada a fim de identificar se há um problema orgânico que mereça tratamento.

CRISES EPILÉPTICAS

A crise epiléptica pode ser um episódio único, decorrente de uma situação específica em que neurônios com esta descarga são sensibilizados por fatores diversos, tais como hipoglicemia (falta de açúcar sangue), infecção (meningite), febre, distúrbios metabólicos, falta de oxigenação cerebral adequada.

É importante esclarecer que crise epiléptica não necessariamente consiste em epilepsia. Esta última se caracteriza pela recorrência de crises epilépticas.

A crise epiléptica é historicamente conhecida como a situação em que o indivíduo cai, perde a consciência e fica “se batendo”, “espumando”. Há muito folclore a respeito, em que se diz que não se deve tocar na saliva que se contrai epilepsia; que há relação com maus espíritos; que após a crise a pessoa fica louca.

Na realidade devemos desmitificar a crise epiléptica e promover o seu diagnóstico e tratamento.

É muito importante lembrar que nem toda crise epiléptica se manifesta desta forma, o que dificulta seu diagnóstico e tratamento. Em especial em bebês e crianças temos formas diversas de crises epilépticas, porque o cérebro em desenvolvimento tem uma forma de comunicação celular diferente do adulto que na sua expressão como descarga anormal leva a crises epilépticas com características específicas.

DIFICULDADE NO APRENDIZADO

Pode ter causa orgânica, pedagógica, ambiental, psíquica. A sua manifestação pode ser em uma ou mais áreas do conhecimento.

É essencial identificar se a dificuldade é específica de uma ou outra área para a atuação e investigação correta. Em geral distúrbios mais globais tendem a ter um carácter mais orgânico, ou psíquico. Por isto a avaliação médica é necessária para excluir esta causas que são tratáveis como por exemplo deficiências sensoriais, TDHA, epilepsia de ausência.

A dificuldade específica em leitura, ou só em matemática pode ter origem do funcionamento neurológico, como por exemplo a dislexia e a discalculia.

A abordagem terapêutica do distúrbio de aprendizagem é multidisciplinar, pois envolve o diagnóstico diferencial, eventualmente um tratamento medicamentoso e tratamento fonoaudiológico, psicológico e psicopedagógico.